quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Primeiras cenas em cidade sem cinema

Luzes e câmeras acionadas, espalhadas, apontadas para cenas gravadas por atores "consagrados", moradores desacostumados, animados com a novidade, frenesi sem idade, fervilhar da mocidade. Mitos, gritos, vaidades. Pequenos "transtornos" (sem retornos) na cidade "cercada", conformada, consternada, projetada no panorama global (e criticada), Mangaratiba de fato ou um lugar ideal ? Legal para ser palco de "um longa metragem", que preza pela imagem, patrocinado por Sylvester Stallone (e pelos clones cobertos de silicones),figura identificada pelas performances sofisticadas, de fachada. Assim, Mangaratiba emerge como cenário de um filme que tem como nome: Os Mercenários (The Expendebles) que abriga um ditador sanguinário que prega o terror em face de um lugar imaginário. Mais um chichê saudosista, elitista, de corte viril, machista, paternalista, imperialista, praxe dos filmes norte-americanos, como de todos os anos, com resgate de mocinhas indefesas sempre conhecidas pela beleza. Quando o "show" (espetacular) terminar, quando desmontar as estruturas erguidas e fincadas na cidade a ficção tende a acabar, caducar e dar lugar à realidade de uma cidade carente de esperanças, de lideranças de verdade, paralisada por uma apatia, letargia que ronda o dia a dia, monotonia, que por ventura guia a conduta de vida dos moradores, de certo modo presa dos favores, sempre nos bastidores, como expectadores. O que a cidade, linda por natureza, pela generosidade e gentileza, ganha com isso na verdade ? Fala-se de resgate da auto-estima, orgulho da população, ostentação, presunção. Dizem que o filme gerou emprego, pagou em dólar uma singela esmola se comparado com o imenso investimento, destinado par o evento e os lucros do "longa" após entrar em cartaz. E em Mangaratiba, como diz uma letra de carnaval, onde era o cinema agora fica a Igreja Universal. Portanto, aproveitem quanto podem para curtir a s cenas em tempo real (ou ficcional?), as críticas no sites em geral, porque depois pode faltar feijão com arroz e se muito menos temos antenas, imaginem cinemas.
Gustavo de Oliveira
Sociólogo e Professor

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